quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Bela e jovem, filme de sutileza impactante



Isabelle (Marine Vacth) é lindíssima. Aos 17 anos, tem o porte de dona de si, cabelos e olhos que tomam conta do espaço. Garota com padrão de vida, mimada pela mãe e pelo padrasto, com uma boa relação com o irmão mais novo. E torna-se prostituta de luxo. A cada cliente vai desenvolvendo um prazer secreto, a possibilidade de descobertas, do próprio corpo e da vida. Aparenta ciência da própria beleza, do seu poder de sedução, e os utiliza para ganhar dinheiro e espaço. 

Faz tudo assim, sem precisar, quebrando o clichê das necessidades. Ou melhor, o que é necessidade? É algo de cada um. O dela talvez seja desprender-se de uma vida entediante. Ou então preencher algum vazio. No terapeuta, com sessões forçadas pela mãe, que não se conforma ao descobrir que a filha circula clandestinamente a fazer programas, não demonstra querer desvendar os motivos de sua escolha. Para ela, nada daquilo é muito anormal, apenas é o que é. A vida como ela é, seu Nelson!



François Ozon, diretor do filme, não se preocupa em dramatizar a situação. Lembra Haneke em Amor, sem usar de músicas para imprimir emoções, choros e velas. O inconformismo da mãe, até mesmo ele, é ao mesmo tempo evidente e contido. A culpa pelos caminhos da filha dão lugar à vontade de consertar o que não tem conserto, nem nunca terá. A sua pequena Isabelle é ainda uma adolescente, mas moça, que em ímpetos avisa ser proprietária do próprio nariz, corpo e alma. 

Isabelle não é uma empreendedora do sexo como Bruna Surfistinha. Ela é francesa, delicada e até matreira. Mistura pureza com malícia, ambiguidade que fica escancarada quando encontra um homem de terceira idade com quem passou uma noite no teatro. Olha para ele, que desconcerta-se ao lado da esposa. Ali fica clara a satisfação em perceber-se potente. De um lado, rompe a moral cristã e a estrutura familiar. Do outro, faz gritar que a 'profissão marginalizada' é, de alguma forma, a perdição de alguns homens. Dois valores falsamente opostos. 

Nas cenas de sexo desvela-se o podre e o sublime. O podre no sujeito que vê a mulher como sua boneca, sua escrava. O sublime no homem que deslumbra-se com a mulher e dela faz sua projeção inalcançável. Pelas ruas de Paris, circula a bela Isabelle, deixando rastros de que a beleza salvará o mundo, com o perdão do príncipe Michkin, de Dostoievski. 

Em Jovem e Bela (Jeune e Jolie), há impacto. O natural impacto ao ver uma filha da classe média alta, adolescente, se prostituir. Entediada, renegando os valores tradicionais, ela busca o caminho reprovado. Parece precocemente farta daquilo que a cerca. E, por isso, corre pelo estrada do que desagradará seus circunstantes. A ironia é delicada, como quando uma amiga conta o desastre de sua primeira relação pensando estar tratando com uma virgem. 


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