segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A dócil e seu fim trágico

Dostoievski traz a todo momento a culpa à tona. Acabei de ler o pequeno conto "A dócil" (editora 34), mas que já foi traduzido como Uma criatura dócil (como no caso da Cosac Naif). Mais uma vez a tortura pessoal advém da culpa por um suicidio (mais contraditório impossível, já que o suicidio é um ato de um contra si mesmo). A culpa por não evitar uma tragédia supostamente evitável (por cinco minutos!!!). 

A culpa por ter um emprego cujos ganhos vêm do sofrimento alheio (casa de penhores). A culpa pela solidão e pela incapacidade de provar as outros não ser covarde. Culpa, culpa, culpa... Sempre assim, seja com Rasklonikov, com os Karamazov, com o principe Michkin ou qualquer outro personagem. Daí sua atualidade e importãncia. Vai no profundo da alma humana, que manifestava-se na Rússia agrária do seu tempo e nos homens das grandes cidades atuais.

A narrativa, quase toda em primeira pessoa, com pouquíssimos diálogos, de um homem de meia idade diante do cadáver de sua esposa adolescente, que se suicidou. Por meio da retrospectiva dos fatos ele tenta compreender como a tragédia se deu. Dono de uma casa de penhores, ele conheceu a moça em suas idas até lá para desfazer-se de pequenos bens a fim de conseguir fazer anúncio para emprego (miséria total). Ela que vivia com tias que a maltratavam. Acabam se casando e vivem uma relação angustiada, de incompreensão mútua, ele no afã de estancar sua solidão e ela na busca de escapar de um destino miserável. E por aí vai... No livro ainda tem um outro conto, também apelidado de narrativa fantástica pelo russo: O sonho de um homem ridículo. Quando acabar de ler comento por aqui.