sábado, 2 de novembro de 2013

O meu vício em Sessão de Terapia

                                                Zécarlos Machado é o psicólogo Theo

Nas minhas férias recentes tive a agradável surpresa de ver que todos os episódios de Sessão de Terapia, série exibida de segunda a sexta pelo GNT,  estavam ao meu alcance. Devorei a primeira temporada, de cabo a rabo. Nunca fui um grande apreciador de séries, ao menos não dessas em que é preciso ver de forma seriada, respeitando a proposta embutida no nome. Breaking Bad e Família Soprano nunca vi, só ouço falar, por exemplo. Lost parei até agora no primeiro episódio, vejam só!

Mas Sessão de Terapia pegou feito tatuagem. Maria Fernanda Cândido, por motivos óbvios, Selton Mello, ator fabuloso e diretor nada convencional, e Zécarlos Machado, que já conhecia de alguns filmes como "Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios" e "As melhores coisas do mundo", foram poderosos chamarizes. Some-se a isso uma certa curiosidade que tenho por terapia (já ameacei fazer algumas vezes, insuflado por amigos e parentes) e a voltagem calibradamente humana e virei presa fácil da trama. A ponto de estar acompanhando a segunda temporada, que está passando agora, com a mesma devoção.

O drama, meu gênero predileto, é contemplado à exaustão, mas sem ser mambembe. O psicólogo no centro da história é vivido com magnificência por Zécarlos. Incrível sua mudança de tom quando é o analisado - sempre às sextas ele visita Dora, a sua psicóloga - um troço genial é que antes de cada capítulo, que é uma sessão, vem o nome do paciente (ou dos pacientes), dia e horário. A psicóloga do psicólogo, pois analistas também tem seus calcanhares de Áquiles emocionais. É um psicodrama, um festival de problemas clássicos sendo desmontados no consultório, que também é residência do protagonista - detalhes de terapia aparecem fartos, como atrasos recriminados e a frase padrão: Acabou seu tempo!

                                            Terapia de casal também está presente na série

São muitos os elementos atraentes. Meus olhos ficaram cheios de lágrimas em vários momentos. Na primeira temporada é curioso como os pais dos analisados têm papel decisivo nos desencontros psicológicos e afetivos dos pacientes. As perguntas cirúrgicas de Theo, são elas o bisturi do analista, a música de fundo que entra, corrosiva, nos momentos de desvelo emocional, a terapia de casal, as irrupções de agressividade dos analisados, os rasgos fraternais do psicólogo por seus pacientes.

Além de não conseguir conduzir sua vida, ao passo que é visto pelos pacientes como o que conduzirá as suas, Theo vê-se em um conflito que não deve ser incomum para terapeutas. Considera-se culpado pelo suicídio de um de seus pacientes, Breno, interpretado por Sérgio Guizé. Há uns detalhes que revelam o dedo de Selton Mello (ele não resume-se a emprestar a voz em todo começo de episódio: Nos últimos capítulos de Sessão de Terapia). A câmera fica em lado diferente a depender do paciente. A ginasta boca dura e crítica da mãe é vista pela sua direita. Julia (Maria Fernanda Cândido), apaixonada por Theo, é vista pela esquerda. Alguém arrisca razões psicanalíticas para isso?

Há a tão adorada escatologia típica de Selton, como o detalhe das mãos de Julia ainda com esperma de uma relação sexual que teve antes de uma das sessões - relação que ela descreve em pormenores que ora excitam, ora produzem asco. Há a força do olhar. Em Theo, os olhos falam. Em Dora, eles berram. Há os símbolos: a cafeteira que Breno dá para Theo ainda em um momento em que este, assim como fez seu pai, ataca de todas as formas o terapeuta tentando desvaler sua profissão. O raciocínio militar e machista do pai (redundância). Tudo muito atraente e minucioso.

                                            Bianca Muller faz a ginasta perturbada

Algumas cenas são de profunda beleza.. Quando a ginasta vivida por Bianca Muller (que olhos lindos tem a moça) ensaia exercício no sofá. Quando Théo a recebe com bexigas coloridas para parabenizá-la por seu desempenho nas eliminatórias. Quando Julia recebe Théo em seu apartamento com grandes janelas e muitos silêncios. Quando Ana (Mariana Lima) descreve a estúpida morte de seu pai quando tomavam sorvete. Quando Théo tem surto violento e parte para cima de Breno após pesada fala do paciente.

Outras cenas são de morbidez impactante. Em especial aquela em que Theo recebe uma coroa de flores mortuárias com a inscrição "Aqui se faz, aqui se paga", no tom ameaçador do pai de Breno.

Culpa é o cerne da série. O sentimento de culpa. Culpa por um relacionamento que não dá certa, pela relação com ruim com ou pai, pelos maus hábitos de um filho, pela morte de alguém.. Para quem gosta de teias emocionais, das fraquezas humanas, Sessão de Terapia é um prato robusto.

                                         
                                          Aqui um teaser de Sessão de terapia



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