segunda-feira, 2 de setembro de 2013

As compras de uma vida inteira

A gente sempre tem alguma coisa para comprar. Acabou a pasta de dentes, o sabonete tá pequenininho, a lâmpada pifou, o fogão idem, a geladeira ibidem... Não tem mais queijo na geladeira, a manteiga só rende se raspar as frestas do pote e as poucas frutas, no fundo da gaveta, estão machucadas. E roupas? Amigos resolvem casar e o único paletó não dará conta do recado. Os tênis estão ficando surrados, o estoque de meias é de dar vergonha e o de cuecas nem se comenta. No quarto, a proteção da gaveta se soltou, os lençóis estão com poucos substitutos, diga-se o mesmo de fronhas e cobertores, e o aquecedor para os dias de frio está com um ruído estranhíssimo. Faltam talheres para receber visitas, os pratos azuis estão demodês e as cortinas estão um horror. De repente, queima a televisão e o chuveiro! Precisa de uma lixeira nova, de um varal novo, de uma fechadura nova, de um apartamento novo... 

Muitas reformas, trocas e aquisições a gente deixa pra mais tarde. O orçamento não aguenta! A paciência não existe! O tempo urge! A preguiça é senhora! Mas sempre haverá o incômodo de um taco solto no chão, de um batente envelhecido, da falta de um guarda-livros e do número insuficiente de travesseiros. Isso para não dizer das lacunas tecnológicas. Como não tenho o último modelo de smartphone? E a TV de cinematográficas polegadas? Um e-book para finalmente ler livros sem esperar sua importação não seria uma má pedida, heim? 


Não queremos só comida e roupa lavada. Queremos mais e mais. As primeiras necessidades clamam: acabou o cotonete e o bombril - não à toa, duas marcas metonímicas, que transformaram-se no nome do produto. Higiene e alimentação são de primeira grandeza. A preocupação não acaba. 

O consumo vive entre a urgência e a opulência. Gastamos horas da vida comprando e planejando o que comprar, mesmo que nada disso levemos para o caixão (embora saiba de gente que pediu para se enterrada com celular e outros sejam sepultados com a roupa da moda). Seguimos fazendo sexo e precisando sorrir, duas coisas que não são exatamente compradas - a não ser que você vá a uma casa de senhoritas ou pague para ver um stand-up comedy. Putis, vou ter que parar este texto pra ir à padaria, acabou o pão e ela fecha cedo...

Nenhum comentário:

Postar um comentário